Sobre Comunidades de Aprendizagem

Base científica

O projeto e as suas seis Ações Educativas de Sucesso (AES) têm uma forte base científica desenvolvida por mais de 80 investigadores e investigadoras de várias disciplinas, ao longo de 30 anos.

A sua base conceptual é apoiada pelas conclusões do Projeto INCLUD-ED, Strategies for Inclusion and Social Cohesion in Europe from Education, financiado pela Comissão Europeia entre 2006-2011, coordenado pelo CREA e desenvolvido na Europa com a participação de 14 países.

A investigação INCLUD-ED identificou seis AES baseadas em evidênciasque alcançam os melhores resultados a nível académico, na coesão social e na coexistência em muitos contextos diferentes. São, portanto, universais e transferíveis.

Já testadas em mais de 9000 escolas, em 14 países de todo o mundo, as AES são a forma mais eficaz de superar as desigualdades sociais e educacionais.

base científico

Origem

A transformação das escolas em Comunidades de Aprendizagem é uma proposta desenvolvida pelo CREA (Community of Research on Excellence for All) na Universidade de Barcelona, em Espanha.

Rámon Flecha

Ramón Flecha
Fundador do CREA e do Projeto Escolas como Comunidades de Aprendizagem

Resultados

A essência do projeto é garantir uma aprendizagem ótima para todas as crianças, proporcionando igualdade de oportunidades, criando as condições para alcançar os melhores resultados para todos, através do aumento das expetativas, envolvendo as famílias e a comunidade em atividades educativas e de promoção de interações. O projeto pretende alcançar:

  • Melhores resultados académicos para todos os estudantes.
  • Aumento da confiança e motivação para a aprendizagem.
  • Melhor coexistência e melhores atitudes de solidariedade social.
  • Mais significado e qualidade de aprendizagem para toda a comunidade.
  • Participação real das famílias e de todos os agentes sociais na escola.

Fases de transformação

Uma escola que pretende tornar-se uma Comunidade de Aprendizagem passará pelas seguintes fases de transformação:

1. Sensibilização:

Tudo começa com a formação científica de toda a comunidade envolvida no processo educativo, uma formação preparatória que deve ser administrada de uma forma intensiva. É o momento de pensar profundamente nos métodos educacionais que produzem os melhores resultados. É também tempo de analisar as funções atuais da escola e de identificar os pontos fortes e fracos para determinar quais as ações que melhor apoiariam a inclusão social e o sucesso académico.

2. Tomada de decisões:

Esto é a fase em que a decisão final é tomada: a escola irá transformar-se numa Comunidade de Aprendizagem. Esta decisão depende do consenso da comunidade através do diálogo constante e o compromisso de todos. O próprio processo de decisão é um exercício de formação para uma prática mais democrática e comunitária.

3. O sonho:

Chega a hora em que toda a comunidade educativa (estudantes, professores, familiares, direção e agentes sociais) sonha com a escola que desejam para o futuro. É um processo apaixonante e criativo, que cada escola realiza e representa de maneira diferente. Um momento importante, porque pressupõe o início da transformação.

4. Seleção de prioridades:

É o momento em que são tomadas decisões sobre quais são as prioridades mais urgentes e os sonhos mais relevantes, partilhados por toda a comunidade. A organização, categorização e priorização dos sonhos são processos conduzidos por uma comissão mista de estudantes, famílias, professores e comunidade envolvente.

5. Planeamento:

É o momento em que a escola desenha o caminho que deseja seguir para realizar os sonhos da comunidade. Além disso, é o palco para a formação de comissões mistas de trabalho que farão o caminho possível através da implementação de AES. Tudo isto resultará de uma assembleia onde toda a comunidade participa.

planeamento

Ações Educativas de Sucesso

1. Grupos Interativos

Grupos interativos são a forma de organização de aula que, até o momento, têm conseguido gerar os melhores resultados. Consiste na divisão de todos os estudantes de uma turma em subgrupos de quatro ou cinco jovens, da forma mais heterogénea possível no que diz respeito a género, idioma, motivações, nível de aprendizagem e origem cultural. Cada um dos grupos é acompanhado por uma pessoa adulta da escola ou da comunidade envolvente ou outros parceiros que, voluntariamente, entra na aula para favorecer as interações. O professor ou professora prepara tantas tarefas de aprendizagem quantos os grupos (normalmente 4). Os estudantes rodam por cada uma das atividades mudando a cada 15 ou 20 minutos. Os alunos resolvem as atividades, interagindo entre si, por meio de um diálogo igualitário. É responsabilidade dos adultos assegurar que todos do grupo participem e contribuam solidariamente com a resolução da tarefa. A formação de grupos interativos faz com que as interações se multipliquem, sejam diversificadas e que todo o tempo de trabalho seja efetivo.

É, portanto, uma forma de agrupamento inclusivo que melhora os resultados académicos, as relações interpessoais e a convivência.

2. Tertúlias Dialógicas

Trata-se da construção coletiva de significado e conhecimento com base no diálogo sobre as melhores criações da humanidade em diversos campos: da literatura à arte ou à música. Com as Tertúlias Dialógicas, potencializa-se a aproximação direta dos alunos – sem distinção de idade, género, cultura ou capacidade – às melhores criações universais e ao conhecimento científico acumulado pela humanidade, ao longo do tempo.

A Tertúlia se desenvolve com a partilha, mediante um respeito rigoroso a quem tem a vez da palavra, de trechos que tenham chamado a atenção ou despertado alguma reflexão por cada participante. Isto gera um intercâmbio enriquecedor, que permite um aprofundamento na matéria e promove a construção de novos conhecimentos. Nas sessões, um dos participantes assume o papel de moderador, com a ideia de favorecer a participação igualitária de todos.

3. Formação de familiares

A oferta de formação das escolas se abre não somente aos estudantes e professores, mas também às famílias. Esta AES difere de outras formações para famílias, uma vez que aqui são as próprias famílias que decidem (normalmente por meio de uma comissão mista) o quê, como e quando desejam aprender.

As atividades de formação podem variar, mas são sempre orientadas para a melhoria das competências e conhecimentos essenciais para a vida na sociedade atual. Isto significa que as famílias têm uma oportunidade de ajudar os seus filhos e filhas com os seus trabalhos de casa, de ler em conjunto, de os apoiar em questões académicas e, ao mesmo tempo, melhorar as suas competências e empregabilidade. Alguns exemplos de Formação de familiares nas escolas que são Comunidades de Aprendizagem são: Línguas, Tecnologia, Matemática e Finanças, etc.

A investigação INCLUD-ED concluiu, entre outras descobertas, que os resultados escolares de crianças e adolescentes não dependem tanto do nível académico alcançado previamente pelas famílias, mas sim dos familiares participarem de processos de formação. Deste modo, aumenta-se o sentido, as expectativas e o compromisso com a importância da educação.

3. Participação educativa da comunidade

Para garantir o sucesso educativo de todos os estudantes, promove-se o envolvimento direto das famílias e da comunidade em todos os espaços de aprendizagem da escola, inclusive da aula. Familiares e a comunidade participam, também, de todas as decisões no que se refere à educação das suas crianças e jovens.

A participação educativa da comunidade concretiza-se, fundamentalmente, de duas formas:

  • Pela participação direta nas AES (Grupos Interativos, Tertúlias, Formação de Familiares, Biblioteca Tutorada, etc.)
  • Pela participação na gestão e na organização do centro educativo por meio das comissões mistas de trabalho. Numa Comunidade de Aprendizagem, a gestão da escola é organizada por uma comissão gestora e várias comissões mistas. A comissão gestora é integrada pela direção e representantes de cada uma das comissões mistas de trabalho. Estas comissões (formadas por professores, familiares, pessoas voluntárias da comunidade e estudantes) são encarregadas de levar a cabo as transformações decididas pela escola na sua fase de sonho. Aprovadas pelo Conselho Pedagógico, as comissões têm autonomia para planear, realizar e supervisionar todas as prioridades decididas, de maneira consensual, em assembleia. Assim, há comissões mistas de biblioteca, formação, voluntariado, convivência, infraestruturas, etc.

4. Modelo Dialógico de Prevenção e Resolução de conflitos

O diálogo igualitário e a participação solidária de todos na busca de consensos são as bases fundamentais deste modelo. É um modelo preventivo, porque envolve toda a comunidade na elaboração das regras de convivência. Com um diálogo igualitário, são construídas, conjuntamente e de forma consensual, as normas da escola que todos  devem respeitar e os procedimentos a serem tomados quando estas normas são transgredidas. Assim, chega-se a um acordo sobre um referencial de convivência que seja aceitável e legitimo para todos os envolvidos.

O modelo promove assembleias e mais espaços de diálogo em que todos participam, e nos quais todos os argumentos para a resolução de um conflito são valorizados. Toda a comunidade escolar é envolvida e se compromete com garantir tolerância zero à violência, promovendo relações solidarias e de amizade.

5. Formação Pedagógica Dialógica

Para poder desenvolver as AES nas escolas, é imprescindível a formação nas bases cientificas, teóricas e nas evidências que se encontram validades pela comunidade científica internacional.

Quando se trata de educação, é urgente passar da mera opinião para as evidências. Para isso, é necessário ir diretamente às fontes teóricas mais relevantes e aos resultados de mais alto nível sobre educação. Em particular, os professores têm de estar preparados para saber argumentar sobre sua prática e distinguir entre opiniões e conhecimentos científicos – para incorporar as AES e avaliar sua implementação com base nos resultados obtidos pelos alunos e alunas.

Neste sentido, uma das atuações com maior êxito educativo são as Tertúlias Pedagógicas Dialógicas. Nelas, o conhecimento é construído conjuntamente em torno dos livros e artigos científicos que a comunidade científica internacional tem validado como referência. Evita-se, assim, abordar o conhecimento por meio de interpretações, opiniões e ensaios de outros autores ou autoras.

 

Princípios da Aprendizagem Dialógica

aprendizagem dialógica

“A aprendizagem dialógica é produzida em diálogos igualitários, em interações nas quais é reconhecida a inteligência cultural de todas as pessoas e que são direcionadas á transformação dos níveis prévios de conhecimento e do contexto sociocultural, de modo que seja possível avançar até o sucesso de todos e todas. A aprendizagem dialógica é produzida em interações que aumentam a aprendizagem instrumental, favorecem a criação de sentido pessoal e social, estão orientadas por princípios solidários e nas quais a igualdade e a diferença são valores compatíveis e mutuamente enriquecedores”.

(Aubert, Flecha, García, Flecha, & Racionero, 2016, p. 137)

Aubert, A., Flecha, A., García, C., Flecha, R., & Racionero, S. (2016). Aprendizagem dialógica na Sociedade da Informação. São Carlos: EdUFSCar.